Olhando os rostos que me
atravessam no caminho, penso: somos tão singulares, tão minuciosamente
diferentes, particularmente especiais! Mas no entanto, algo escapa de todos
estes rostos que me parece vindo do mesmo lugar! Algo no olhar perdido, ou no
sorriso que se encontra em si mesmo!
Escute, tenho que te contar o que
você já sabe: temos a mesma história de povo brasileiro.
Sim, povo brasileiro, este que
não é nem será nunca delimitado e definível e por isso não posso deixar de
resgatar sua vastidão impressa em nosso íntimo.
Tenho isso como especial, um
comum único. Tenho como especial fazer parte da história do Maracatu, da
Umbanda, das Cavalhadas, das Congadas, dos carnavais, dos mitos e rituais
indígenas, da resistência e da fé sertaneja, da Tropicália, da Capoeira, da
bossa nova, do Movimento Antropofágico, do samba, das lutas contra as ditaduras... Sou sempre citada nas causos que o caipira conta
enquanto enrola seu fumo de corda. Sou sempre afetada pela coragem e pelas
mazelas do sem-terra de olhar enrijecido e malemolência no cantar! Estou sempre
sendo capturada pelas redes do ribeirinho que vai ao mar buscar o que alimente
o corpo e a alma!
Me sacodem por dentro, num furor
de estar viva, o giro da baiana e também as comportas de Belo Monte e a
angústia dos Kaiowá! Você sente? Sabe com as vísceras do que to falando?
Se
não, sintonize o seu radar pra sentir esse seu arredor e conectar-se com sua
história, todos nós podemos saber disso de dentro pra fora. Se sim, vamos indo
por este caminho, que cada dia me leva mais perto de você e você de mim!
P.s.: Ouvir Maria Bethania, 2003,
Album Brasileirinho
Um abraço apertado e uns beijos
nos olhos
Jaqueline Olina